Análise Literária: “Fragmentados” e sua concepção realista

Faz um bom tempo que eu não faço análise literária aqui. Além do cursinho que consumiu meu tempo e as análises se restringiram apenas aos comebacks que eu acompanhei, não tive tempo de ler livro nenhum. Enquanto eu tenho tempo sobrando e não sei como andarei com minha vida até o mês de fevereiro, vou lotando vocês com algumas coisas que eu acho interessante de cada livro. Claro, o debate não será sobre ele por inteiro, mas alguns pontos dele que valem uma discussão.

Sinopse:

Em uma época após uma guerra civil, uma desavença entre os pró-vida e pró-escolha acarretou na sanção da Lei da Fragmentação. O que ela significa? Os pais que não desejam o filho, para não recorrerem ao aborto, assinam um termo de que, a partir dos 15 anos de idade, se não engano, o filho pode ser fragmentado, ou seja, seu corpo será “desmontado” e as peças serão doadas para quem necessita. Com uma visão totalmente distópica de um futuro que eu acredito que muitos concordariam, o livro traz a fuga de três jovens que desertaram e não desejam a fragmentação.

Resumo:

Connor descobre que será fragmentado quando acha passagens para uma viagem de seus pais e seu irmão mais novo, além do documento da fragmentação. Por acreditar ser um erro enorme dos pais, ele foge e fica conhecido por seu ato, uma vez que ele fugiu com uma garota e mais um outro menino. A garota, de nome Risa, é orfã e, por não ter sido adotada antes dos 16 anos, para não acumular as casas de adoção, ela mais um monte de jovens nessa idade são diretamente mandados para os campos de fragmentação. Além dos dois, o garoto Lev, décimo filho de família religiosa, foi concebido no intuito de ser o dízimo da família perante Deus, ou seja, ele seria oferecido para a fragmentação de livre e espontânea vontade, tanto que ele sabe de seu destino e concorda com ele.

Na fuga de Connor, ele causa um acidente, que liberta os jovens de um ônibus, possibilitando que Risa o acompanhe. Além disso, para manter a sua segurança, ele sequestra Lev, que os acompanha contra a própria vontade.

Debate Religioso:

Um dos lados mais críticos da história toda é como os religiosos concordam com essa ideia. Ou seja, a religião foi transmutada a fim de que as pessoas concordassem com a Lei da Fragmentação. Além disso, em várias parte do livro foi citado trechos da bíblia de que, sim, Deus permitia e concordava com isso, dando a entender que líderes religiosos passaram a reinterpretar os livros sagrados para que essa ideia fosse aceita. Claro, o livro não aponta uma data em si, mas como as situações agem de forma natural, a Fragmentação foi implantada há muitos anos e isso se tornou um costume da atualidade.

Jovens Rebeldes, aqueles que fugiam da fragmentação:

Obviamente que muitos, quase a maioria, não via com bons olhos a fragmentação de seu corpo em pedaços menores para suprir uma demanda de órgãos. Por isso, muitos fugiam, tentavam se esconder até completarem 18 anos, idade em que a fragmentação não era mais permitida, pois o jovem torna-se adulto e tem liberdade de escolha sobre o próprio corpo.

Entretanto, o debate que eu quero fazer sobre isso é dos Batedores, agentes terroristas que, contra a essa prática, invadiam os campos de fragmentação a fim de desestabilizar a estrutura, o sistema e afins. Por que “batedores”? Era implantado no sangue dos jovens, por serem mais fáceis de adentrar e de se esconder entre os que seriam realmente fragmentados, uma substância explosiva que, quando sofria um impacto enorme, causava uma explosão de grande proporção. O jovem precisava se sacrificar, o que simbolizava para uns o espírito de luta; para outros, insanidade total.

Não tiro a razão de muitos fugirem, ou de quererem libertar os demais, visto que a situação é bem caótica e problemática.

Ideia de Fragmentação e sua realidade na nossa:

Com a religião sendo usada de forma manipuladora e com crises mundiais, eu não acharia loucura uma pessoa ler esse livro e achar que a fragmentação é uma ideia lógica e sensata. Seriamente, sou aquele que vou contra a ideia disso, pois é de uma uma anti-ética enorme imaginar que essa realidade viesse se concretizar na nossa. Além de agir de uma maneira autoritária, simplesmente transforma os jovens “indesejados” como mercadorias.

Por hora, se analisar com calma, a ideia de comercialização de órgãos, a qual entrou em pauta nesses dias no twitter, seria algo extremamente semelhante a isso. É de dar medo que toda a ideia de ser humano simplesmente se resume ao ganho monetário, mesmo que isso passe por um lado desumanizado. Aliás, isso já ocorreu e ainda ocorre, como foi e é a escravidão, ou a pessoa se vender a um emprego apenas pelo ganho monetário. É tenso, é drástico. Creio que esse debate afunde por mais vertentes, como a sociologia, filosofia e medicina.